Votos perpétuos do Irmão Cristi
A VIDA CONSAGRADA DO IRMÃO NA IGREJA
-O profetismo de ser irmão-
“E todos vocês são irmãos” (Mt 23,8)
Este texto pretende desenvolver a identidade e alguns elementos característicos da vocação e missão do Religioso Irmão, a partir do chamamento a seguir Jesus, no estilo da Vida Consagrada.
Os irmãos consagrados são leigos que, por circunstâncias variadas, seguem um impulso interior inexprimível – vocação – de seguimento que se denomina ao longo da história do cristianismo como “seguimento radical de Jesus”. A radicalidade está na maneira de viver os impulsos mais profundos do ser humano: afeto, busca do outro, sexualidade, poder, dinheiro, vontade, liberdade, sensibilidade para com os valores transcendentes e a tensão para a mais completa comunhão com Deus. Procura-se na humildade, viver todos estes valores a partir do que se denomina “consagração”, tornar-se sagrado, dedicado à glória de Deus. Quer dizer, visibilizar alguns traços característicos de Jesus Cristo inteiramente consagrado ao Pai para o Reino: Jesus Cristo pobre, casto e obediente, mas também sociável e missionário.
A missão principal dos religiosos é exatamente serem religiosos, testemunhando para si, para Igreja e para o mundo o absoluto de Deus em suas vidas e na própria história. E este testemunho do ser, condiciona essencialmente a maneira como realizam qualquer ação, tarefa ou missão. No seguimento de Jesus, os irmãos religiosos explicitam, de modo radical, o mandamento novo de amor a Deus e ao próximo, preferentemente aos pobres, constituindo na Igreja testemunhas do absoluto de Deus.
A base da vida do Irmão está numa certeza interior que nasce de uma experiência religiosa profunda, pessoal, única e irrepetível. Esta experiencia é vivida e testemunhada sob diferentes aspetos na sua missão em contacto e serviço direto com os leigos, nas variadas obras sociais, nas escolas, hospitais, lares, creches etc.
A presença do Irmão Consagrado no meio dos pobres tem que ser uma presença cada vez mais precisa e competente, sobretudo na linha educativa e organizativa, para possibilitar aos pobres tomar nas mãos a sua cidadania e seu destino, motivando a cultura da solidariedade criativa que promove talentos, iniciativas, caminhos de dias melhores para a qualidade de vida em benefício de todos. E isso o irmão o faz em nome da fé e do amor de consagração, a exemplo de Jesus, que preferiu ao longo da sua vida estar no meio dos pobres, mesmo que esta opção lhe trouxesse, como aconteceu, duros conflitos religiosos e políticos. Mesmo assim Jesus nunca deixou de assumir a dimensão de ser diferente, de ir “contra corrente” evidenciando sempre o amor a Deus e ao próximo.
O IRMÃO POBRE SERVO DA DIVINA PROVIDÊNCIA
“...o mundo olhando aos Irmãos Pobres Servos da Divina Providência possa dizer:
eis como se pratica a lei de Cristo. E todos, através do vosso exemplo, deixarão seus princípios e abraçarão os princípios do Santo Evangelho...” (São João Calábria)
O meu desejo não é de fazer uma apologia da figura do Irmão, mas quero apresentá-lo identificando e sublinhando alguns aspetos desta figura.
O irmão Pobre Servo da Divina Providência é chamado a ser realmente “o homem novo”, isto é, que construindo a própria vida nos valores do Evangelho, confessa que Deus é única e verdadeira riqueza, manifestando a beleza da relação filial com ele, que nos envolve, como corresponsáveis, na realização do seu desígnio de amor: “fazer de todos os homens uma só família”.
A presença: com este termo entendo sintetizar aquilo que a meu ver é o estilo próprio do Irmão Pobre Servo da Divina Providência; um estilo de presença na realidade pessoal de cada um, em particular, da pessoa em dificuldades. Trata-se de uma presença “física” que leva a tocar com as mãos a realidade do homem de hoje, os problemas quotidianos que ferem a nossa existência. Uma presença como amigo, gratuita, que se interessa pelas pessoas. Uma presença ativa, que sabe fazer propostas, oferece motivações inspiradas na razão e na fé, desperta a criatividade e a coresponsabilidade e, ao mesmo tempo, acompanha as pessoas de forma personalizada. No estilo desta presença penso ser útil citar o que dizia Pe. João Calábria (o fundador da nossa Congregação): “Nós (os irmãos Pobres Servos da Divina Providência) não somos uma sociedade de beneficência ou uma organização educativa que tenha como última finalidade determinadas realizações materiais ou culturais; a nossa finalidade é dar vida a uma presença que dê razões de esperança, que convoque pessoas, que suscite colaboração, para realizar juntos, um projeto de vida e de ação segundo o Evangelho”.
Desde o início, ao contrário da tradição daqueles tempos, o Pe. João Calábria preferiu não dar um hábito “específico” aos irmãos mas, na falta deste, o espírito das grandes virtudes religiosas e humanas seja o uniforme que faz a diferença.
Concluo com um breve e simples testemunho próprio: se me perguntassem hoje, “Nesta tua vocação de Irmão Pobre Servo da Divina Providência encontraste Jesus?”, primeiramente responderia que certamente foi Ele que me encontrou. Mas, pensando bem, diria também que da minha parte, nesta vocação certamente encontrei o meu modo de O procurar a Ele.
Irmão Cristi (Pobre Servo da Divina Providência)